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terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

O homem-sanduíche na catraia


  1. Os rumores chegaram até os meus ouvidos e o Dermeval Passos da Hora sondou-me via conversa telefônica, ainda na noite da sexta-feira última, um pouco tarde para seus hábitos de macróbio cachoeirense, que dorme cedo com as galinhas e acorda ao raiar do dia. Talvez estivesse em dúvida se eu havia mesmo embarcado nesta nau eleitoral dos insensatos que, vez em quando, aporta como catraia calefatada à betume na praia do Cantagalo. O interessante é que este episódio evocou em mim algo meio memorial, sei lá. Quando era garoto na cidade baixa estas embarcações eram às vezes utilizadas como meio de transição para embarcações maiores, como saveiros, lanchas rápidas e outras de maior calado, geralmente conduzida por algum navegador mais simples ou mesmo um pescador modesto, que não se arriscaria a sair em mar aberto. Desse modo os embarcadiços levavam alguns passageiros de barco em barco, navio em navio em pequenos percursos de maré tranqüila. 
  2. O Aurélio eletrônico é que  traz informações adicionais de verbete que insuspeitadamente me fazem revelações ou epifanias que somente acontecem nesses momentos nostálgicos. Vejam que catraia é, ao mesmo tempo, um pequeno barco tripulado por um homem só e meretriz de baixa classe! Mas que situação propícia para que o imaginário se solte como um vagabundo saco plástico de bompreço ao vento. A catraia mulher é aquela que se deita no leito tosco, o catre, para o intercurso ligeiro do baixar calçolas, ao tempo em que o barqueiro simplório utiliza-a como se estivesse em fuga de naufrágio, um sobrevivente dos ataques de um cachalote em fúria, como no Moby-Dick de Herman Melville. Outra referência menos literária que chega dá conta da praia do Cantagalo, dos velhos Armazéns Gerais da Calçada e da história de uma senhora idosa e libertina, a arquetípica mulher adúltera, que atraía os marmanjos banhistas e futebolistas para que os latagões a conhecessem em sentido bíblico. Como era muito guri nesta época, os moleques maiores em seus relatos antecipavam para mim conflitos freudianos precoces, pois dizia-se que a mulher trajava roupa escura e sóbria, tinha um ar triste, lúgubre mesmo. Antes aliciava-os com merendas maternais e depois seduzia-os como uma Jocasta do bairro dos Mares. De um tom grego funesto e terrível. Conta-se também que um de seus amantes filais mergulhou imprudente, durante uma maré de março, de cima dos armazéns e acabou paraplégico. Desde então temia aquele local. Nunca mais sequer me aproximei de sua praia, receando o seu pathos trágico. Meses antes uma ressaca violenta de mar Egeu fez ruir muitas casas de sua habitada e urbanizada borda; aquilo me deixou muito impressionado ainda criança. Até o Hospital São Jorge foi abalado severamente. Foi uma comoção geral.
  3. Esta e outras histórias têm um fecho provisório interessante, pois a molecada de rua certa ocasião tentou a empreitada de construir com tábuas de um velho barco em decomposição mais outros madeirames de incerta procedência, uma venturosa catraia. O arroubo juvenil e a vontade de se lançar ao mar pôs em movimento um grupo denodado de garotos que, sob a supervisão de algum considerando-se mais experiente em construção naval, acabou por construir um amontoado de paus-e-pregos calafetado à betume. Era algo rude mesmo, “mais pesado que a água” e nem sei se remos foram pensados, pois fazer que ela – nossa catraia – flutuasse e partisse era um desejo que nos cegava em obstinação. O final anunciado deste micro episódio dentro da história  foi que a nau dos insensatos veio a pique minutos depois de estrondosa alegria de empurrá-la pelas areias da praia de Roma. Poucos tentaram em vão salvá-la. As ondas da maré batida e as marolas provocadas por outros barcos de passagem a fizeram adernar abruptamente. A água invadiu sem pudor seus compartimentos precários e obrigou-nos a nadar em direção à praia, desolados. Somente muitos anos mais tarde é que fui entender um pouco mais de construção naval, num estaleiro comandado por um mestre construtor de barcos artesanais, profissão transmitida através de gerações. Nos tempos antigos, os carpinteiros cortavam as tábuas utilizando machado, serrote e serrotão. Muitas vezes, o tempo necessário de construção de um barco ficava entre 10 e 12 meses.
  4.  Pois é, tudo isso me faz lembrar as tentativas heróicas de fazer eleição departamental, por paradoxal que seja. Se jamais participei de chapas pelo incrível exército de Brancaleone antes, quanto mais agora. Vejam bem, não no sentido de aceitar e me deixar conspurcar por conduta geral que reina num Departamento tão bizarro e sui-generis como o DCIS (nem sei se isso mesmo que ele é!?). 
5. Tudo me faz lembrar da Calçada e do homem-placa ou homem-sanduíche. Naquele caminho entre a Jequitaia e o Bonfim sabe-se que, desde 1901, uma ferrovia antes nas mãos dos ingleses passou a ser administrada por uma empresa francesa (Compagnie Chemins de Fer Federeaux du l’ Est Brésilen). Isto permaneceu até 1935, quando  ela veio a constituir-se como Viação Leste Brasileiro. Conta-se que, numa dessas idas e vindas do mundo, um homem-sanduíche francês clandestino num navio cargueiro aproximara-se do local e amasiara-se com uma vendedora de mingaus. Esta mimava o gaulês branquelo com muito mugunzá. Tempos depois, os negócios amorosos foram minguando, o homem com saudade de seus queijos podres e a mulher sentindo que os caraminguás rareavam cada vez mais. O desfecho trágico se deu numa catraia, à noite estrelada. Após seduzir o marselhês, a mina fê-lo beber sua última papa de araruta com estricnina. O homem tremelicou, crispou as mãos em espasmos convulsos e só teve tempo de dizer: "Pierre qui roule n'amasse pas mousse (pedra que rola não cria limo, ou vida desregrada dissipa a riqueza)...depois rolou ao mar, tendo como mortalha as próprias vestimentas em forma de anúncio, as quais nem tirava para dormir.


6. Mas é a Susan Buck-Morss que nos traz em sua leitura benjaminiana das Passagens, as conseqüências do aforismo: "O homem-sanduíche é a última encarnação do flâneur". A vagabundagem nos leva ao papel mais  ordinário e desqualificado e, mesmo, a pretensa liberdade de se tornar um mercador de ilusões decadentes converte seus prepostos em meros vendedores de enciclopédia. Diz o Miroir du Monde em 1936 : “Você os vê passando por nossas ruas, esquálidos e maltrapilhos, com suas longas capas cinza, sob seus gorros com abas vistosas. Sejamos francos: nem de longe sou favorável a este tipo de trabalho. Por sua própria natureza, nem a dignidade da publicidade e do homem que a porta são valorizadas por meio deste cortejo lastimável”. Nos diz ela ainda que "O homem-anúncio foi uma figura menosprezada, embora familiar em Paris durante década de 1930, uma daquelas personagens que são reconhecidas como parte da maioria dos habitantes da cidade. Homem-cartaz, eles  eram outdoors  humanos que anunciavam e publicizavam produtos e eventos da cultura de consumo burguês. E, a despeito dos uniformes que lhes eram fornecidos para que tivessem uma aparência mais respeitável, estavam implacavelmente associados à pobreza". Como se vê, nos dias de hoje são compradores de ouro e vendedores de "ouro de tolo", no tráfico da zona de comércio das grandes capitais brasileiras. 






7. Nos relata mais ainda Buck-Morss: "Trabalhadores eventuais de meio-período e não sindicalizados, os homens-sanduíche eram recrutados em meio aos mendigos (clochards) – dos quais doze mil estavam registrados em Paris, em meados da mesma década de 1930, como habitantes sem moradia. Dormiam onde podiam, geralmente debaixo das pontes do Sena onde encontravam abrigo das arcadas decadentes. Marginais, proletários desclassificados estas eram a " massa da população esfarrapada, maltrapilha e faminta que a sociedade tinha que desprezar". Nos permitam dizer ainda senhoritas, que algumas dos primeiros "homens-placa" em Paris eram mulheres. “Em 1884, um escritor fez uma reportagem para o London Times: ontem encontrei uma procissão de garotas vestindo cartazes publicitários. E no ano seguinte apareceu no Pall Mall Gazette: Nós temos, e não faz muito tempo, visto mulheres empregadas como ‘sanduíches". Se a relação entre o passado e futuro é um enigma ou charada com o qual despertamos e no qual o conhecimento do passado não é capaz de historicizá-la, mas de cristalizá-la como um pão-de-açúcar em balcão de padaria, os planos da realidade,  memória e  alucinação transformam o vestido de noiva de Nelson em filó de mosquiteiro na minha cabeça. Desperto agora garoto, com menos de 8 anos em plena Cidade Baixa. 


8. Uma vizinha que vem de carona  pergunta-me na sinaleira do cruzamento Garibaldi-Vasco da Gama-Lucaia. "Você viu a quantidade de meninas agora distribuindo planfetos imobiliários em Salvador?", "Pois é, deixou de ser coisa de gente pobre, agora tem também universitários fazendo isso...dá um dinheirinho, né?". Abro o vidro e chegam distribuindo vários lançamentos de apartamentos de luxo por toda Região Metropolitana de Salvador, mas também aparece logo um vendedor de rosas e um malabarista projetando seus pinos às alturas, um rapaz humilde que faz um artesanato com fibra de coco verde, um guri com uma garrafa PET querendo lavar o pára-brisa e ... o sinal fica verde novamente. Escapo e sigo adiante. Só paro e estaciono na CEASA do Rio Vermelho. Na barraca de hortifrutis "Bahia" pergunto a seu Ademar pelas novidades. Sempre sorrindo ele me diz que um colega, meio alourado-careca, alto e forte   esteve mais cedo e teria perguntado por mim. (Quem teria sido? ), indago-me então. O Carlos Freitas, certamente. Finalmente recordo que devo voltar ao homem-sanduíche na catraia. 


9. No retorno para casa, ao descarregar as compras, um saco pleno  de limões se rompe e um deles rola como uma grande bola de gude verde, escapando  da cozinha para a sala. Acaba quicando num canto e vai se acomodar como meteorito em rastro luminoso de bólide, bem junto do Leviatã. Intrigado, abro o livro bem no capítulo X e leio na metade da página 54 "O valor público de um homem, aquele que lhe é atribuído pelo Estado, é o que os homens vulgarmente  chamam dignidade. E esta sua avaliação pelo Estado se exprime através de cargos de direção, funções judiciais e empregos públicos, ou pelos nomes e títulos introduzidos para a distinção de tal valor". Fecho abruptamente o livro e me vem a mente - que obsessão! - o homem-sanduíche na catraia resfolegando nos seus estertores de moribundo. Lembro das eleições departamentais. Precisa-se de um Diretor. Sinto uma inconfessável vontade abjeta de rir. Afasto estas idéias e preparo uma caipirinha.











segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

O Encontro da SEP este ano será em Uberlândia!

Atenção pessoal,

Fiquem atentos às inscrições para o XVI Encontro Nacional de Economia Política de 2011. Ele será realizado em Minas Gerais, Uberlândia entre os dias 24 e 25 de junho de 2011, no Instituto de economia da Universidade Federal de Uberlândia. Tema deste ano é "Dilemas do Desenvolvimento Brasileiro". Penso que os estudantes do grupo são historicamente interessados nele!



XVI Encontro Nacional de Economia Política

Estão abertas as inscrições de trabalhos para o XVI Encontro Nacional de Economia Política, sob o tema Dilemas do Desenvolvimento Brasileiro. O prazo limite para a submissão de artigos é 15/03/2011. O Encontro será realizado de 21 a 24 de junho de 2011, no Instituto de Economia da Universidade Federal de Uberlândia. Para mais informações e submissão de artigos, clique aqui.
Informamos a todos que os Anais do XV Encontro Nacional de Economia Política recebeu o ISSN 2177-8345, que pode ser informado para registro no currículo lattes




XVI Encontro Nacional de Economia Política

XVI Encontro Nacional de Economia Política
Promoção: Sociedade Brasileira de Economia Política (SEP)
Realização: Instituto de Economia da Universidade Federal de Uberlândia - UFU
Apoio: CAPES, CNPq, IPEA, BNB, Fapemig, Cofecon, Corecon-RJ, Corecon-MG.
Período: 21 a 24 de Junho de 2011
Local: Instituto de Economia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU):
Av. João Naves de Ávila, S/N - Campus Santa Mônica – bloco J – Uberlândia - MG
CEP: 38400-902

Prazo final para submissão de artigos: 15/03/2011
Coordenadores do Evento:
Prof. Paulo Nakatani (UFES)
Prof. Niemeyer Almeida Filho (IE-UFU)
Prof. José Rubens Damas Garlipp (IE-UFU)

Comissão Organizadora:
Prof. Vanessa da Costa Val Munhoz (IE-UFU)
Prof. Wolfgang Lenk (IE-UFU)
André Teles Rodrigues (IE-UFU)
Sirlene de Souza Ferreira Medrado  (IE-UFU)
Tatiana Pereira Athayde  (IE-UFU)
Tiago Camarinha Lopes (aluno PPGE-UFU)
Lívia Rodrigues Spaggiari Souza (PET-IE-UFU)
Instruções para submissão de artigos: 
Postar cópia impressa do artigo, sem identificação de autor (se houver identificação de autor no corpo do texto ou no envelope, o artigo será imediatamente reprovado. No envelope, para evitar identificação, forneça os dados da própria SEP como remetente – disponível no link contato), com resumo em português e em inglês, indicação de área e sub-área e indicação destacada de que está sendo submetido às Sessões Ordinárias ou às Comunicações (para uma descrição das diferenças, veja a seção "Sessões de Comunicações e Sessões Ordinárias", logo abaixo). Deverá ser enviada uma cópia impressa nas condições acima apontadas para cada um dos membros da respectiva Comissão Científica (endereços disponíveis ao fim desta página) até o dia 15 de março de 2011 (vale o carimbo dos correios como comprovante de data de envio). Não é necessário o envio de cópia impressa diretamente para a SEP. Bastam as cópias enviadas aos membros das Comissões.
Postar também uma cópia com identificação de autor, co-autores e sub-área, através da submissão on-line, até 15 de março de 2011. Durante o processo de submissão on-lineserá gerado o boleto com a taxa de submissão a ser paga. Para a submissão on-line é necessário estar cadastrado no site. Caso ainda não possua cadastro, clique aqui para cadastrar-se.
Leia com atenção todo o texto dessa página, pois ao enviar seu artigo o autor declara ter pleno conhecimento de todas as regras que regem a submissão e seleção de artigos para o Encontro.
Formatação do artigo:
Fonte Times New Roman, corpo 12, espaço 1,5, tamanho máximo de 25 páginas (incluindo gráficos e bibliografia), em formato PDF (não serão aceitos artigos em formato DOC, DOCX, RTF, ZIP ou qualquer outro que não seja PDF), e com margens de 2,5 cm (no mínimo). Como já ressaltado, o texto não deve conter quaisquer referências que possam identificar o autor. Em tais casos as Comissões Científicas recusarão de imediato o artigo.
Taxas para submissão de artigos:
Sócios em dia com a anuidade: R$ 50,00 por artigo ou comunicação.
Sócios com anuidade em atraso: R$ 90,00 por artigo ou comunicação.
Não sócios: R$ 130,00 por artigo ou comunicação.
Considera-se em dia com a anuidade, o pagamento da anuidade de 2010. Lembramos aos sócios que a anuidade de 2011 terá um desconto para o pagamento até o dia 30/04/2011.
Havendo ao menos um co-autor que seja associado da SEP, a taxa de submissão por artigo seguirá a tabela de associado. Mas para receber o desconto, o artigo deverá ser postado através do cadastro do associado. Caso o artigo seja postado através de um usuário que não é associado da SEP, o sistema automaticamente gerará um boleto com valor referente aos não-associados.
As inscrições de estrangeiros, ou do exterior, poderão ser efetivadas com o pagamento das devidas taxas, de submissão e de inscrição no Congresso, no momento do credenciamento, com a apresentação dos boletos emitidos.
Cada autor ou co-autor pode submeter, no máximo, 2 artigos, sejam eles em co-autoria ou não, em quaisquer das áreas ou sub-áreas.
Lembramos a todos que o pagamento das taxas de submissão não dá direito à participação no Encontro – mesmo que seu trabalho tenha sido aprovado – referindo-se tão-somente ao processo de seleção dos trabalhos. Para a inscrição no Encontro todos deverão seguir os procedimentos e pagamento das taxas pertinentes, a serem disponibilizados no site da SEP a partir de abril de 2011.
Artigos cujo boleto de inscrição não tenham sido devidamente pagos serão prontamente eliminados das listas de avaliação das Comissões Científicas.
Lembramos também que o pagamento das taxas de submissão não dá direito a um parecer sobre os motivos da aprovação ou não de seu artigo. E, em hipótese alguma, haverá devolução das taxas de submissão.
Aprovação dos trabalhos submetidos:
A lista com os artigos aprovados será disponibilizada até 30 abril de 2011; na mesma ocasião serão enviadas cartas de aceite a cada um dos autores. Aos autores dos artigos selecionados que efetivarem suas inscrições no Encontro, a SEP procurará cobrir suas despesas com hospedagem (em quarto duplo) e alimentação, nos dois dias das Sessões Ordinárias e de Comunicações – maiores detalhes serão fornecidos nas cartas de aceite. As despesas referentes ao deslocamento até Uberlândia, no entanto, correm por conta dos autores. No caso de textos em co-autoria, apenas um dos autores terá suas despesas cobertas
Sessões de Comunicações e Sessões Ordinárias:
Procurando contemplar um maior número de autores, os trabalhos serão apresentados em dois formatos distintos: as Sessões Ordinárias e as Comunicações, cada qual com um processo de submisão distinto. A escolha é feita ao longo do processo de submissão on-line, e deverá estar devidamente destacada na capa dos artigos impressos, enviados às Comissões. No caso das Sessões de Comunicações, todas as despesas correrão por conta dos autores e apenas os resumos serão publicados (os resumos devem ter até 2 páginas). Tanto as Sessões Ordinárias como as Comunicações irão compor mesas ao longo da programação do Encontro. A diferença reside no tempo disponível para a apresentação de cada artigo nas Comunicações, que será menor do que o das Sessões Ordinárias.
Como forma de incentivo aos participantes das Comunicações, os artigos submetidos às Comunicações poderão, em função da qualidade e a critério das respectivas Comissões Científicas, ser realocados nas Sessões Ordinárias. Ressalte-se, contudo, que o inverso não ocorre, ou seja, artigos enviados às Sessões Ordinárias, e não aprovados, não serão realocados nas Sessões de Comunicações.
Áreas temáticas e endereços para postagem dos artigos para as respectivas Comissões Científicas:
1. Metodologia e História do Pensamento Econômico
1.1. Metodologia e Caminhos da Ciência
1.2. História do Pensamento Econômico

Profa. Gláucia Campregher (UNISINOS)
R. Jacinto Gomes, 223 ap 31,
CEP: 90.040-270 - Porto Alegre - RS
Profa. Maria Mello de Malta  (UFRJ)
Av. Pasteur 250, sala110, Instituto de Economia, Palácio Universitário Campus da Praia Vermelha/UFRJ
CEP: 22290-240 - Botafogo, Rio de Janeiro, RJ
2. História Econômica e Economia Brasileira
2.1. História Econômica e Social Brasileira
2.2. História Econômica Geral
2.3. Economia Brasileira Contemporânea

Profa. Rosa Maria Marques (PUC-SP)
Rua Cayowáa, 560, apt 112.
CEP: 05.018-000 - Perdizes São Paulo - SP
Prof. Pedro Cezar Dutra Fonseca (UFRGS)
Rua Jaraguá, 279, AP. 301
CEP: 90.450-140 - Porto Alegre (RS).
3. Economia Política, Capitalismo e Socialismo
3.1. Teoria do Valor
3.2. Capitalismo Contemporâneo
3.3. Socialismo

Prof. Rubens Rogério Sawaya
Rua dos Franceses, 470 apt 92C
CEP: 01.329-010 - Bela Vista - São Paulo/SP

Prof. Mario Duayer (UFF)
R. Domingos Sávio Saad, 120 / 701
Boa Viagem, Niterói
CEP: 24.210-325, RJ
4. Estados e Nações face à nova configuração do capitalismo
4.1. Estado e economia capitalista
4.2. Estado e políticas públicas
4.3. Os Estados nacionais na nova configuração do capitalismo

Profa. Leda Maria Paulani (USP)
Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade - FEA-USP
Departamento de Economia
Av. Prof. Luciano Gualberto, 908, Edifício FEA II, 1º andar
CEP: 05.508-900 - Cidade Universitária, São Paulo (SP)

Prof. Paulo Balanco (UFBA)
Rua Francisco Rosa, 400, apt° 103
CEP: 41.940-210 - Rio Vermelho - Salvador (BA)

5. Dinheiro, Finanças internacionais e Crescimento 
5.1. Economia Monetária e Financeira
5.2. Economia e Finanças Internacionais
5.3. Um novo sistema monetário internacional

Prof. Gentil Corazza
Savaris Apart Hotel - ap. 404
Av. Brasil, 1242
CEP: 85.851-000 - Foz do Iguaçu – PR
Prof. Claus Germer (UFPR)
Rua Dr Faivre, 988 - ap. 402
CEP: 80.060-140 - Centro Curitiba, PR
6. Economia Agrária, Espaço e Meio ambiente
6.1. Economia, Espaço e Urbanização
6.2. Economia Agrária e do Meio Ambiente

Profa. Ana Cristina Fernandes (UFPE)
Praça de Casa Forte, 317 apto. 202
CEP: 52061-420 - Recife, PE
Prof. Pedro Ramos
Instituto de Economia - UNICAMP
Caixa Postal n. 6135
Cidade Universitária Prof. Zeferino Vaz
CEP 13.083-970 - Distrito de Barão Geraldo - CAMPINAS - SP

7. Trabalho, Indústria e Tecnologia
7.1. Mundo do Trabalho
7.2. Economia industrial, serviços, tecnologia e inovações

Profa. Ana Maria Fontenelle (UFCE)
Av Rui Barbosa, 2100 ap 502. Joaquim Távora
CEP: 60.115-222 Fortaleza - CE
Prof. Lauro Mattei (UFSC)
Rua Lauro Linhares 1315, Apto 904
CEP: 88.036-002 - Bairro Trindade - Florianópolis-SC

8. Área Especial: América Latina e Brasil na nova configuração do capitalismo
8.1. Os novos desafios para o Brasil e América Latina
8.2. Balanço da crise: resultados, perspectivas e limites das políticas anti-crise.

Profa. Vanessa Petrelli Corrêa (UFU)
Universidade Federal de Uberlândia
Avenida João Naves de Ávila 2121, bloco J, sala 1J241,
CEP: 38.400-902 - Bairro Santa Monica, Uberlândia - MG
Prof. Reinaldo Gonçalves (UFRJ)
Instituto de Economia - UFRJ
Av. Pasteur 250
CEP: 22.290-240  Urca Rio de Janeiro  RJ 

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Livros, livros, livros à mão cheia...manuais, manuais e manuais ?

Para os estudantes de economia a disponibilidade dos conhecidos "manuais de economia monetária" possui nos dias de hoje uma oferta significativa no mercado editorial. Longe de considerar os manuais como ferramenta pedagógica inadequada, considera-se que os mesmos possuem um papel fundamental e organizador da matéria para os iniciantes. Embora se reconheça a limitação dos mesmos no que se refere ao aprofundamento e exposição de conteúdos realizados pelos autores em  seus trabalhos originais, não se pode negar o alcance e o valor introdutório (propedêutico) dos mesmos na exposição preliminar e de divulgação. Não se quer aqui chegar ao cúmulo de fazer o que chegam os americanos - em certas circunstâncias - que remetem ao manual como se este fosse "a referência" do assunto, dispensando qualquer outra fonte. Bons e maus manuais estão em toda a parte. Todo manual padece de um certo aviltamento na sua condição de material didático sintético e condensado. Seu surgimento histórico remonta a transição da manufatura para a grande indústria, bem como a transição de uma mentalidade restritiva ao conhecimento na forma escrita para uma didática centrada numa ética protestante capitalista. Neste caso é vulgata que acaba sendo conhecimento vulgarizado, simplificado e fragmentado que, se por lado, amplia o acesso das massas à informação, por outro, limita e restringe o acesso às visões opostas e críticas alternativas, bloqueando o interesse pelas fontes mais ricas de um conhecimento cultural significativo. A citação a seguir resume bem este argumento:

[...] O livro didático é limitado e condicionado por razões econômicas, ideológicas e técnicas. A linguagem que produz deve ser acessível ao público infantil e juvenil e isso tem conduzido a simplificações que limitam sua ação na formação intelectual mais autônoma dos alunos. Autores e editores ao simplificarem questões complexas impedem que os textos dos livros provoquem reflexões ou possíveis  discordâncias por parte dos leitores. Sua tendência é de ser um objeto padronizado, com pouco espaço para textos originais, condicionando formatos e linguagens, com interferências múltiplas em seu processo de elaboração associadas à lógica da mercantilização e das formas de consumo. (BITTENCOURT, 1998, apud  CENTENO, 2009)

É obvio que alguns manuais universitários conseguem, ao menos,  superar o limiar de mediocridade a que estão constrangidos. Digno de nota é, por exemplo, o clássico livro de economia monetária, os "Princípios de Economia Monetária" de Eugênio Gudin dos anos 1950. Num depoimento feito pela sua ilustre aluna, Maria da Conceição Tavares, vê-se que o trabalho do patrono da corrente neoliberal brasileira teria produzido um material didático importante

"De outro lado, o Eugênio Gudin tinha uma apostila sobre economia monetária, que é um ótimo livro. Eu aprendi economia com o livro do Gudin, que não tinha nenhum modelo matemático. Os clássicos também não tinham nenhuma equação"





Bielchovsky afirma ainda que livro-texto "Princípios de economia monetária" era um manual de referências teóricas para as análises concretas da economia brasileira, sendo que sua estrutura reflete seu envolvimento com a ciência econômica, ainda que Gudin não fosse de fato o que se define usualmente como economista teórico.  Apesar de tudo, o livro-texto, Princípios de economia não consiste num trabalho de um autor quantitativista ortodoxo. Em verdade, tinha-se neste trabalho algo que as gerações posteriores iriam fazer através de obras propedêuticas, com graus distintos de complexidade. Este aspecto caminha ao lado do que o Prof. Carlos Lessa destaca em sua análise do processo de evolução do economista profissional. Se no século XIX a presença e onipresença - ou mesmo - o quase exclusivismo dos juristas e bacharéis de direito no poder era a regra, do governo militar pós-1964 até os dias de hoje os economistas são os auxiliares do Príncipe, o símbolo do poder constituído. Os "operadores de política econômica" vão necessitar de suas referências manualizadas, sendo que o livro de Gudin é uma espécie de precursor destas obras.  Podemos dizer que nos dias de hoje há até um excesso, através do  retorno à uma espécie de bacharelismo refundindo o patrimônio do cargo público com o exercício de funções de ensino superior, onde a retórica eloqüente e o livresco superficial  torna-se aceito culturalmente na sociedade em detrimento de análises mais profundas da realidade concreta. 

Entrementes, a disponibilidade de manuais "autorais" ou resultante de produção coletiva tornou-se profusa e significativa, seja pela tradução de manuais estrangeiros ou por autores nacionais. A exemplo disso, temos os livros  Economia Monetária e Financeira: uma abordagem pluralista, Ed. Makron Books (ver link de resenha mais abaixo) do Prof. Fernando Nogueira da Costa, como também o livro organizado pelo Prof. Fernando Cardim e outros Professores - Economia Monetária e Financeira: Teoria e Política, Campus-Elsevier e, mais recentemente, foi publicado Economia Monetária - uma abordagem Brasileira do Prof. José Roberto Novaes de Almeida, Ed. Atlas. disto. Com efeito, todo manual irá refletir escolhas e posições teóricas  dos autores e grupos em questão. Nenhum manual é "completo" per si e o melhor conselho que se pode dar aos estudantes é que eles manuseiem literalmente todos os manuais que lhe caírem nas mãos (desculpem tanta redundância!). Os limites e possibilidades de cada um irão se refletir neste diálogo possível entre os livros, quando os leitores fazem análises, comparações e permitem que ocorra  um debate, sempre mediado pela leitura coletiva. 

Pois então, faça-se o uso dos manuais de modo correto, o portal de entrada dos neófitos ou, como disse o poeta, "Ó menina vai ver nesse almanaque /como é que isso tudo começou/Diz quem é que marcava o tic-tac/e a ampulheta do tempo disparou..." 






Referências

Lessa, Carlos  "A preeminência profissional e o Estado brasileiro: dos juristas aos economistas", in Mary Dei Priore (org.) Revisão do paraíso: os brasileiros e o Estado em 500 anos de história Rio de Janeiro, Campus, 2000. 


Centeno, Carla Villamaina. O conhecimento histórico vulgarizado: a “ditadura” do manual didático, Revista HISTEDBR On-line, Campinas, n.33, p.169-178, mar.2009, 169-178. 

Link com a resenha do livro "Economia Monetária e Financeira: uma abordagem pluralista de Fernando Nogueira da Costa.


http://www.uff.br/revistaeconomica/v1n1/paula.pdf

Link com o prefácio à primeira e segunda edição do livro "Economia monetária financeira : teoria e política" mais o sumário de capítulos, organizado  por Fernando J. Cardim de Carvalho e outros.


http://joaosicsu.org/sumarios/Economia%20Monetaria%20e%20Financeira%202ed.pdf

A "Refavela" vira bairro urbanizado: Estado, capitalismo e urbanização em questão

Postagem sobre a mutação urbana e conversão das favelas em "bairros" extraída do Blog do Prof. Fernando Nogueira da Costa

link: http://fernandonogueiracosta.wordpress.com/2011/01/06/transformacao-das-favelas-em-bairros-populares/#more-6976

Transformação das Favelas em Bairros Populares
06/01/2011 às 7:00 | Na categoria Noção de Nação, Sociedade Brasileira | Deixe um Comentário
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Estudo sobre o mercado imobiliário de 15 favelas cariocas mostra que, do total de pessoas que compraram imóveis nessas áreas, nos seis meses anteriores à pesquisa, 57% já moravam lá. Os pesquisadores também apresentaram aos moradores que haviam adquirido imóveis opções como trocar a residência recém-comprada ou alugada por casa maior, com escritura, em bairro mais distante, ou  se mudar para alguma quitinete, no centro da cidade. A maioria (69%) disse que preferiria continuar onde está. O atrativo da favela não está apenas na proximidade com o local de trabalho fora da favela, isto é, “no asfalto”.
A informalidade imobiliária é a chave, na visão neoliberal, para entender os fatores que levam os moradores a continuar na favela. A ausência de regularização dos imóveis dificultaria o controle urbano, mas daria mais liberdade de construção. Uma casa na favela pode ganhar mais dois andares sem burocracia, taxas e impostos, ou seja, sem custos e tempos extras, para construir ou reformar.  Isso pode ser opção de renda quando, como geralmente ocorre no morro, a associação de moradores anuncia em seu quadro de avisos, além de casas para vender ou alugar, lajes de residências onde o comprador poderá construir novo imóvel.

Há pequenos construtores que fazem acordos com donos de casas que não têm dinheiro para construir, arcam com as obras de mais dois andares e dividem os imóveis feitos com o dono do terreno. As soluções encontradas pelo mercado informal das favelas para diminuir o número de moradores por domicílio, mesmo com o aumento da população moradora na favela, já estão dando resultados, a julgar pelas estatísticas que apontam a verticalização dos imóveis.
A ausência do Estado nas negociações de imóveis nas favelas criou rede imobiliária informal que, apesar da precariedade, consegue dar um mínimo de ordem a esse mercado. Em alguns casos, o vazio do poder público é ocupado pelas associações de moradores, que acabam fazendo papel de imobiliária, de cartório e das Secretarias de Habitação e da Fazenda.
No morro, por exemplo, um presidente da associação dá documento com papel timbrado da associação (assinado por duas testemunhas) para os moradores que querem “regularizar” uma transação de venda ou aluguel. Como contrapartida, assim como acontece com as imobiliárias, a associação cobra uma taxa de 2% do valor negociado. As associações de moradores assumem funções do poder público.
Mesmo sendo mercado informal, ele tem instituições e regras que, em geral, são respeitadas. Não há mercado que funcione se não houver regras.
Esse mercado tem atrativos, pois a pessoa não precisa comprovar renda ou ter fiador para alugar uma casa; ela também não paga condomínio ou IPTU, algo que aconteceria se morasse fora dali. Mas traz também alguns obstáculos: diferentemente do que acontece no mercado formal, a imensa maioria (67%) dos imóveis de favelas é comprada à vista e em apenas 16% dos casos é possível fazer financiamento.

Além de razões específicas do mercado imobiliário informal, a favela atrai seus moradores por outros motivos. Há os laços familiares e de amizades lá criados, pois, para 91% dos moradores entrevistados, a maioria de seus amigos residia na própria comunidade e 74% deles disseram também que a maioria de seus familiares morava nela. Há também expressivo mercado de trabalho próprio da comunidade.
Em muitos casos, há mais estabelecimentos comerciais na favela do que a soma dos estabelecimentos de bairros do entorno. Esse comércio interno da favela emprega uma parcela significativa de seus moradores, chegando quase à metade dos chefes de domicílio da favela que trabalham na própria comunidade.
Esse dado é comum às favelas e mostra que esses locais não podem ser vistos apenas como áreas de moradia ou de narcotráfico, pois existem um comércio e uma vida urbana estruturada dentro das favelas. Segundo pesquisa, cerca de ¾ dos moradores fazem as compras do mês na própria comunidade. Quando a pergunta é a respeito das compras de consumo imediato, esse percentual chega à quase totalidade das famílias.
Na hora de escolher técnicos para fazer serviços pessoais e de reparação, a preferência de 90% é por pessoas que moram na favela. A primeira vantagem do comércio local é ter, na percepção da metade de seus moradores, preços menores do que no resto da cidade. Por causa da dificuldade de acesso, de achar o endereço certo ou das barreiras impostas pelos traficantes, muitas lojas não entregam mercadorias em alguns endereços em favelas. Para ¾ dos moradores de favela, as compras feitas em outros locais não são entregues em sua residência. Quando a compra é realizada na própria favela, no entanto, a situação se inverte e apenas 40% afirmam que as compras não são entregues.
Por ser, em sua maioria, comércio informal que atende em grande parte consumidores que fazem parte do mercado de trabalho informal, os estabelecimentos da favela oferecem opções de crédito que, no comércio formal, praticamente inexistem. Comprar fiado, por exemplo, dando como garantia apenas seu nome anotado numa caderneta, é prática comum na favela: ¾ dos moradores afirmam que têm essa possibilidade no local. Fora dali, essa opção é quase inexistente para a imensa maioria dos moradores da favela, já que só 5% disseram que já compraram dessa forma em estabelecimentos fora da comunidade.


Estima-se que 175.800 pessoas tenham sido removidas de suas favelas, até 1968, mas foi a partir deste ano, até 1973, época dura do regime militar, que o programa foi mais sistemático e intenso. Vale lembrar o caráter seletivo de tal política, na medida em que 70% dos domicílios removidos localizavam-se na Zona Sul, Tijuca e Méier. O resultado foi a perda de representatividade das favelas da Zona Sul: se, em 1950, 25,4% da população residente em favela estava na Zona Sul, em 1970, apenas 9,6% destes ainda residiam na área. Esse conjunto de fatores alimentou, nos anos 70, a idéia de que as favelas desapareceriam do cenário urbano carioca.
Entretanto, nos anos após a democratização do País, assistiu-se à retomada do crescimento, tanto pelo adensamento das antigas quanto pelo surgimento de novas. Com a pacificação das favelas, a emergência de microempreendimentos, a formalização do mercado imobiliário, a legalização das propriedades, a possibilidade de tomar crédito, e as políticas públicas, as favelas se transformarão em bairros populares.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Campus universitário em decomposição: pesquisadora francesa discute o território do campus como um "corpo doente", moral e fisicamente

A desertificação do campus universitário é um fenômeno cíclico. A ideologia urnana sobre o campus universitário francês que remonta os anos 1960 marcou época. Nos dias de hoje, mesmo após intervenções que tentaram aperfeiçoar suas condições arquitetônicas e urbanísticas, melhorando suas conexões, retirando-o do isolamento, o território do campus, segundo a arquiteta Florence Lipsk, é um corpo doente e seus males continuam antigos, moral e fisicamente considerados. O sentimento de pertencer a Universidade não é compartilhado nem por estudantes nem por professores, com exceção dos institutos politécnicos.

Lauréate du prix de l’équerre d’argent 2005 pour la bibliothèque du campus de La Source, à Orléans, Florence Lipsky prépare une thèse universitaire sur les campus.
Florence Lipsky é arquiteta e professora da Escola de Arquitetura da Cidade e dos Territórios em Marne la Vallée.


Para Lipsky o território da universidade deveria ser o lugar do aprendizado em todos os sentidos e a questão do campus é a mesma da cidade. O elo essencial entre território e docência se dá quando a criação de um campus ultrapassa a mera ligação entre um lugar e  a cidade. Deve-se pensar o território da Universidade em sua dimensão fundamentalmente cultural e educativa, criando condições da melhor aprendizagem. O Campus é um território específico, uma cidade complexa - a relação entre cidade e Campus é a de arquipélago. O Campus tem sua identidade própria, sem ser incompatível com a cidade em que ele está conectado. A chegada de novas tecnologias - os computadores individuais e a internet - faz com que cada um se pergunte sobre os lugares de reunião e aproximação humanas. O local, a materialidade do campus não o impede de ser global. O solo, o terreno,  é fundamental para todo indivíduo, para os estudantes, os pesquisadores e as demais pessoas. Neste momento o universitário francês vê-se diante de uma realidade onde a mentalidade de locatário irresponsável deve ser superada pela de habitante pertinente. 
Plan général du futur campus Condorcet-Paris-Aubervilliers, des architectes Lipsky et Rollet.MINISTÈRE DE L'ENSEIGNEMENT SUPÉRIEUR ET DE LA RECHERCHE/LIPSKY+ROLLET

Resenha - Sobre a estrutura da teoria da política monetária - parte I : moeda em circulação x moeda retida de Victoria Chick



O capítulo 7 do recém-lançamento da Editora Unicamp nos traz um artigo da Victoria Chick que revela um interesse particular em termos de teoria comparada. Na realidade, este capítulo corresponde ao artigo "On the Structure of the Theory of Monetary Policy”,  reunido nesta coletânea de estréia de uma série sobre macroeconomia heterodoxa ou crítica. As preocupações e intervenções da autora pertencente ao grupo pós-keynesiano são de corte metodológico, sempre chamando para a cena analítica a dimensão histórica da teoria e de sua pertinência. A este respeito, outra pós-keynesiana conhecida, a Sheila Dow é bem precisa a respeito da metodologia pós-keynesiana. Assim, em termos gerais, a metodologia econômica estaria preocupada com a escolha dos métodos analíticos e os meios de escolha entre teorias competindo entre si. Os economistas do mainstream (neoclássicos) consideram que o método de análise é o formalismo matemático e a escolha teórica deve recair sobre a melhor predição.  Clareza e precisão permitem a comparação teórica pelo formalismo e as boas teorias são escolhidas pela sua maior capacidade de previsão face às más teorias. Mas o projeto pós-keynesiano reclama o realismo das hipóteses, nem sempre guardadas pelos axiomas e sua tradução formalizada. Sob esta última condição, Friedman e Popper convergem ao exigir - ao contrário do paradigma pós-keynesiano - o teste da teoria através do refutacionismo*.  Se  para um o que vale é "ciência positiva", simetricamente, para outro, "o domínio empírico da pesquisa" é o lugar de verificação protocolar de toda verdade científica. 
K.Popper


O formalismo torna-se uma exigência lógica que penetra profundamente o que se chama hodiernamente  de "sistemas fechados". Esta limitação conduz ao que Chick utiliza como argumento para explicitar a corrupção do debate "monetarista - keynesiano", ou seja, uma falsa dicotomia que confunde as teorias e os fatos nelas imiscuídos e as suas manifestações estruturais teóricas.
M. Friedman

Os denominados "mecanismos de transmissão" da política monetária seriam assim constructos que indevidamente ocupam o locus analítico do que é relevante do ponto de vista propriamente teórico. Como exemplo, a suposta ação da moeda no "setor real" mediada pela taxa de juros (keynesianos) ou diretamente sobre a renda (monetaristas) converte-se em questão de somenos importância. Esta visão mecanicista da moeda é fortemente resguardada nos manuais e livretos de referência e está presente na literatura de economia monetária (Mishkin, 1996) desde os modelos tradicionais keynesianos IS-LM chegando-se aos mecanismo de crédito e outros ativos financeiros. É interessante notar que até filmes documentários atuais, como o Zeitgeist Addendum, apresentam toda a cadeia de transmissão da moeda e de sua criação de crédito ex nihilo por meio desta mecânica monetária.

Na análise da estrutura lógica de diferentes teorias sobre a demanda de moeda (TQM, Keynes, IS-LM, Tobin-Brainard, Radcliffe e Friedman) passa-se de uma relação fluxo-fluxo a uma relação estoque-estoque. A autora propõe uma saída em seu approach metodológico que nas suas próprias palavras "deixaria biólogos contentes", pois os híbridos destes sistemas e modelos seriam como são na natureza, mais robustos. A fragilidade quantitativa clássica dos "puros fluxos" como o seu resgate radicalizado de "puro estoque" são soluções de canto, sem força maior. Nem mesmo o híbrido keynesiano é uma boa combinação a seu ver. Sua construção se deu num contexto de refutação da teoria clássica dos fundos emprestáveis e da experiência catastrófica do mercado acionário de sua época, logo antes da publicação da Teoria Geral. Noutros termos, os requisitos históricos institucionais tão ciosamente apreciados por Chick, ficam de certo modo deslocados pela necessidade de soluções pragmáticas, criadas para  atender os imperativos da hora. Desta forma, o finance motive - fundo rotativo de ativos líquidos que é providenciado pelo sistema à economia- e outros conceitos fundamentais para a compreensão e integração do financiamento macroeconômico surge nos debates com Ohlin, o qual chama atenção para esta dimensão inconclusa da teoria de Keynes, o qual insere o já supracitado motivo à teoria da preferência pela liquidez. Todavia, este último não se confunde com poupança-ex ante. 

Para concluir, cabe então considerar o que a própria Chick vem trazendo para a sua fronteira de pesquisa como metodóloga.  A idéia de "sistema aberto" é extremamente oportuna quando a maioria do conhecimento econômico se faz sob a égide dos "sistemas fechados". A Teoria Geral seria uma experiência que trouxe a macroeconomia à luz por ter esta virtude. São os sistemas  abertos que possibilitam a influência da história, sempre um fechamento  parcial e provisório. Desta  forma, uma teoria pertinente na compreensão dos fenômenos advindos com a revolução industrial perderá sua acuidade na explicação atual de processos que se desenvolvem sob o capitalismo globalizado  e comandado pela lógica  financeira. 

Só nos resta desejar boa leitura!

Segue um Link para o artigo "Sobre Sistemas Abertos" publicado na Revista da Sociedade  Brasileira de Economia Política, Rio de Janeiro, nº 13, p. 7-26, dezembro 2003. 


domingo, 26 de dezembro de 2010

Lançamento do Blog "Economia Monetária - Moeda e Acumulação Financeira"

Olá pessoal,


Este é um Blog com o qual pretendemos estabelecer um diálogo acadêmico através das disciplinas que ministramos na Universidade. Ele parte de uma constatação e de uma idéia. Pudemos notar ao longo do último semestre que os estudantes da nova geração utilizam e produzem muito com as novas ferramentas midiáticas que estão disponíveis na atualidade. A leitura nas telas e as imagens disponíveis são instrumentos preciosos na comunicação atual. Outro fato é que o uso de blogs é parte didático-padagógica da sistematização de conteúdos em disciplinas na graduação e pós-graduação, como sugeriu-me o Prof. Gildásio Santana, também tutor do PET Ciências econômicas da UESB.

No curso dos semestres passados notou-se também que o emprego de linguagens e exposições que ultrapassam a transmissão expositiva e incitam a interação reflexiva dos estudantes é extremamente válida, permitindo superar bloqueios e incompreensões que amiúde surgem nas quatro paredes de sala de aula noturna uefsiana. Alí, o Nosferatu melancólico reaparece muitas vezes, espectral, no estado de vigília dos sonolentos, tremendo na penumbra do candeeiro ou nas imagens retro-projetadas nas paredes pelo velho docente de Bram Stoker que faz regressar as formas arcaicas do passado na temporalidade presente.


Muitos estudantes jovens são ainda assomados pelas “mulas-sem-cabeça” das idéias pré-concebidas que lhes são perpetradas como novidades e que não passam de “relíquias bárbaras” como era o padrão-ouro lá nos anos 30 do século passado. Ou como disse Keynes na Teoria Geral, à propósito de economistas “almas-penadas” que aconselhavam governos com a sábia lábia de moedeiros falsos: “as idéias dos economistas e filósofos políticos, estejam eles certos ou errados, têm mais poder do que se costuma imaginar. Na verdade, quase nada além delas governa o mundo. Os homens práticos, que se crêem livres de influências intelectuais, freqüentemente são os escravos de economistas defuntos e escrevinhadores acadêmicos. Loucos no poder, que ouvem vozes no espaço, destilam sua loucura de algum escrevinhador acadêmico de alguns anos antes”.

Como “postagem inaugural” do Blog passamos para todos um filmeto sobre a peleja histórica Hayek versus Keynes, o Fear the Boom and Bust (Tenha medo da  Expansão e da Recessão), um vídeo do YouTube produzido por John Papola e pelo economista Russ Roberts, num estilo rap. Deixadas à parte a construção francamente “síntese neoclássica” à la Samuelson do Keynes apresentado, o vídeo é provocativo e traz na verbalização de Hayek um esboço hip-hop da teoria austríaca dos ciclos econômicos. Esperemos assim que ao menos uma discussão seja reacendida e que a velha tradição do ciclo keynesiana seja considerada pelos estudantes. 

Saudações,

Prof. Ricardo Caffé

Sobre o ciclo em Keynes, ver um interessante texto de Antonio Barros de Castro na revista Pesquisa e Planejamento Econômico do IPEA através do link abaixo:

http://ppe.ipea.gov.br/index.php/ppe/article/viewFile/1034/973 

Vídeo Fear the Boom and Bust - Haeyk contra Keynes